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Por Freddy Van Camp, jurado do Prêmio Salão Design 2020, designer com mais de 50 anos de carreira, premiado diversas vezes, jurado de inúmeros concursos, autor e tradutor de livros sobre design

 

Quando a situação se estabilizar voltaremos a uma “nova normalidade”!?!?

Depois desta quarentena, que temos apoiado integralmente, muitos almejarão uma proximidade maior, mas terão receio ainda de transmissão, já que não saberemos se o nosso interlocutor teve, ou não teve o COVID. O que fazer então???Tudo isso dependerá dos novos e futuros conhecimentos que teremos ou tivermos sobre este vírus tão letal.

Decididamente não voltaremos como “antes”! Teremos um novo “modelo”

Porém a economia precisa ser retomada, e o trabalho é que move a economia!
A primeira opção é como ter proximidade e como manter o distanciamento. Nos relacionamentos e isso terá que ser equacionado, especialmente no trabalho.

Já imaginaram se tivermos que nos paramentar daqui para diante como os profissionais de saúde estão se paramentando para podermos trabalhar??? Algumas profissões provavelmente terão sim que se paramentar, mas isso não poderá ser para a maioria.

O que nos resta? O trabalho remoto. Teremos que exercitar uma nova experiência de trabalho a ser ainda formulada. Cada um no seu canto, cada um na sua casa ou em novos ambientes, agora distanciados, mas pensados para a nova era.

Tentaremos transmitir aqui os aspectos relativos aos ambientes de trabalho específicos e de uso mais geral. Sabemos que isso tudo atende a uma camada de usuários e não é ainda nossa realidade universal, onde muitos não têm ainda acesso a internet publica e gratuita, o que já passou a ser um divisor de águas em nossa sociedade, especialmente a partir de agora.

O verdadeiro início do século está acontecendo!

Já estamos preconizando o “home office” para todas as atividades de estudo, teóricas, administrativas ou burocráticas. Claro que há atividades práticas que poderão ser executadas no “home”, em casa! Mas onde, em casa, esta atividade se dará?

Nem sempre temos um escritório, um estúdio, um ambiente reservado para o trabalho. Não poderemos trabalhar, por longos períodos, na mesa da sala, da copa, ou acocorocados no sofá. São ambientes sociais, onde outras pessoas interagem e não pensados para o trabalho. Isso pode e deve estar acontecendo hoje, mas não é uma possibilidade para o futuro, muito menos para esta nova normalidade que está por vir.

O isolamento que já vivemos, com nossos “Headfones”, nossos computadores pessoais, tablets, Ipads vai ser exacerbado daqui para diante, especialmente em ambientes familiares. As crianças e adolescentes, com suas aulas remotas; a educação à distância, os jogos e lazer; o pai ou a mãe, com seus trabalhos e empregos e eventuais estudos ou os membros da família que forem empreendedores, todos se isolam grande parte do dia. Mesmo os de terceira idade, que queiram se comunicar com parentes ou com a realidade cada vez mais isolacionista que nos espera, por um bom tempo. Todos serão usuários destes “hardwares” que nos manterão em rede, com os “nós” de um metro e meio de distância! O trabalho em casa vai necessitar de uma nova realidade doméstica e vai modificar a nossa relação funcional e empresarial com o espaço de trabalho.

As empresas, com o resultado da experiência atual, vão querer continuar a economizar em espaços de trabalho. Muitos prédios de escritório perderão sua função ou serão reduzidos ao mínimo, já que o trabalho remoto será bastante utilizado. Os que restarem serão não só reduzidos e muito modificados. Se continuarem provavelmente terão que mudar seu layout, mobiliário e equipamento, o seu caráter.

Hoje em dia, já não há mais armários ou arquivos, pois se guarda tudo na memória das máquinas ou na nuvem. Haverá menos postos individuais de trabalho e mais mesas de reunião ou de trabalho coletivo, como em parte já ocorre. Mas agora ao invés dos escritórios panorâmicos, invenção dos anos 60/70, voltarão os espaços compartimentados, com divisórias, mantendo uma “gestão da distância” criando os possíveis isolamentos necessários. Precisaremos de mais locais com projeção e mais câmeras para comunicação à distância. Tudo que acelerar a produtividade deverá ser considerado.

Os que estiverem obrigados a trabalhar nestes locais, formando equipes pedirão mais “facilities” para o local; cantinas ou “coffeshops”; locais para descanso ou reuniões informais, eventualmente vestiários e academias para exercícios ou relaxamento e locais para abrigar bicicletas ou patinetes, em um novo meio de deslocamento. Estas facilities servirão como atrativos e compensação para retirar funcionários de suas casas, já que trabalhar remotamente ou de casa significara maior liberdade, mas em um ambiente fechado põem em risco a segurança para contágios.

Isso já vem sendo preconizado em empresas mais avançadas e no exterior, mas isso deverá ser adotado entre nós de forma mais abrangente. Locais para receber deliverys terão que ser pensados. Já há opções “contact less” que poderão se generalizar. Comer em restaurantes, com aglomerações será descartado por um bom tempo. Importantíssimo serão as facilidades tecnológicas, como excelentes redes de comunicação, facilidades de tele-conferência, acesso a periféricos e suporte técnico, facilidades digitais de todo tipo, eletricidade, iluminação, acústica, refrigeração ou aquecimento, acesso a desinfecção, etc.

Um problema específico é o do condicionamento de ar destes ambientes. Todos os sistemas deverão ser repensados, ou substituídos, pois eles podem ser transmissores de contágio, ao longo de seu uso, mesmo que sejam tomadas todas as precauções, hoje já difundidas.

O resultado final é que vai haver, com certeza, uma re-significação espacial nos ambientes de trabalho.

Claro que o mobiliário, que terá que ser redesenhado, passará a ser um fator de conforto a ser considerado. Mesas com ajustes de altura, para tender a ergonomias diferentes; dispositivos de privacidade e acústica; disponibilidade de telas mais amplas, para tele conferencias, do que as atuais dos laptops; cadeiras ativas, confortáveis e ajustáveis, que já existem, mas deverão ser utilizadas de modo mais universal do que atualmente, especialmente no que se refere a seu custo. Teremos que replicar o “estar em casa” para tornar o escritório atrativo. Ajuda a manter a eficiência mesmo á distância!

No âmbito doméstico isso também se refletirá. A necessidade de mobiliário próprio para trabalho, com os suportes adequados as novas necessidades, internet mais confiável, no-breaks para falta de energia, suportes para câmeras e periféricos, isolamento acústico variável, ou permanente, que permita privacidade acústica e visual junto a outros familiares, além de tratar assuntos confidenciais, etc. Como haverá mais tempo disponível isso exigirá eventualmente até um espaço próprio e isolado para trabalho, um quarto ou as antigas dependências de empregada, semi isoladas do ambiente doméstico. Deve-se considerar que este espaço possa equipado para ser utilizado por gerações diferentes e gêneros diferentes, em horários diferentes, e cada um com suas necessidades especiais (ergonomia, materiais, suportes, etc.).

Não sei se os espaços de “co-working” hoje disponíveis e bastante populares, continuarão a se desenvolver como atualmente. O fenômeno das “startups” terá também uma modificação e os espaços hoje utilizados talvez tenham que se adaptar a esta nova gestão da distância. As medidas de desinfecção serão também decisivas no design de todos esses espaços, exigindo materiais e acabamentos resistentes que suportem este novo hábito, que vem sendo instalado entre nós.

Esta discussão entre escritório panorâmico e o “home office” já vinha sendo travada, desde os anos 70, por planejadores e sociólogos, especialmente na Alemanha, com defensores em ambos os lados. O aumento da população urbana, o distanciamento de casa para o trabalho, os congestionamentos diários, a mobilidade requerida pelo distanciamento, os fatores ambientais daí resultantes, forçaram a uma mudança que vem sendo implantada, mas muito lentamente. Foi preciso o advento da informática generalizada primeiro e agora esta pandemia, para que ele realmente fosse levado a sério e acelerasse sua implantação de vez.

A descentralização, a economia no deslocamento, a necessidade de conforto familiar, alem de tempo para o lazer, cada vez mais necessário, pode nos indicar e conduzir a uma profunda mudança nos nossos hábitos futuros. O que inclusive, se refletira no futuro desenho de nossas cidades. O ”retrofit” de prédios atuais e a implosão de áreas ociosas inteiras, criando mais espaços de uso, podem ser resultados que veremos acontecer. Haverá, com certeza, uma grande modificação no nosso meio ambiente construído nestes próximos tempos.

Já há soluções indicadoras para muitos destes assuntos. Mesas de trabalho adequadas ao uso em residências, com acessórios componíveis, coisa que só encontrávamos em sistemas de escritório, já estão disponíveis assim como cadeiras ativas de diversos modelos. Estes itens precisarão ser atualizados com os novos detalhes ou acessórios advindos da nova realidade normal: armazenadores de máscaras, suportes para álcool gel, porta luvas, etc. Sempre haverá um aspecto a ser revisto com o passar do tempo. Flexibilidade e multi-funcionalidade são aspectos que estão vindo à tona, novamente, para atender aos nossos novos anseios.

Há ainda outros ambientes de trabalho remoto que precisam ser estudados, o das costureiras, dos joalheiros, dos artesãos, dentistas e prestadores de serviços diversos, por exemplo, só para citar alguns, que necessitam de itens muito específicos de suporte. Mas isso deverá e poderá ser abordado em outra ocasião e em uma discussão mais abrangente.

A “nova realidade” do trabalho e de seu ambiente ainda precisa ser mais estudada!

Texto de palestra proferida “on line” para a UNIOESTE em 06/05/2020 a convite da Profª Luli Hata.
Asssistir em youtube


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