de de

Comissão Julgadora, Geral,

por Ivens Fontoura

 

Ainda que óculos de sol possam estar à frente dos mais belos olhos de uma pessoa, eles não piscam para ninguém. Assim como, existam inúmeros tipos de cadeiras com braços e nenhuma delas abrace qualquer pessoa.

Uma piscada intencional para demonstrar forte atração por alguém ou para trocar informações em um jogo de baralho entre duplas de jogadores é resultado exclusivo da cognição e vontade humana. Do mesmo modo, as cadeiras de braço possibilitam apenas o apoio dos braços de quem toma a decisão de sentar-se. Em ambos os casos por melhor nível estético que se apresentem, obviamente, apenas o ser humano tem a capacidade da decisão sensorial. Em outras palavras, óculos de sol não piscam, nem cadeiras de braço abraçam!

Em 1988, a designer carioca Isabella Perrotta publicou na revista Design & Interiores o seguinte artigo: Bonecos antropométricos não se coçam. Seu principal objetivo foi o de chamar a atenção para que os profissionais tomassem cuidado no uso do boneco antropométrico como referência em seus projetos. É sabido que a articulação dessas engenhocas de madeira é bastante limitada. Mesmo diante da evolução tecnológica dos materiais e de suas transformações os bonecos antropométricos jamais terão a beleza, a graça e harmonia dos movimentos de toda gente.

Bonecos antropométricos, cadeiras de braços e óculos de sol estão limitados à condição de objetos. Por outro lado, sabe-se que a palavra objeto significa ligação entre sujeito e predicado, caracterizando as mais diversas maneiras e tipos de ação humana. Afinal, somente os seres humanos são capazes de produzir objetos, diferentemente de alguns animais limitados a uma produção exclusiva e única, como a concha marinha, o favo das abelhas ou as teias das aranhas, entre tantos outros exemplos. O objeto produzido pelo ser humano vai mais além, caracterizando-se como elemento de ligação, configurador do entorno, forma de extensão e mediador social.

Como elemento de ligação entre sujeito e predicado o objeto é o que é aprendido pelo conhecimento e que, obviamente, não é sujeito do conhecimento. Como extensão humana o objeto existe para atender seus desejos e necessidades. Como configurador do entorno, o objeto é o principal integrante da paisagem e como mediador social é via de mão dupla capaz e responsável de participar no processo de comunicação entre as pessoas. A partir de todas estas qualidades, os objetos são capazes de proporcionar fortes emoções. Contudo, insuficientes para serem chamados de emocionais. Muito menos, na condição de Design Emocional. Para tanto, basta consultar dicionários, etimólogos e psicólogos sobre a questão.

A palavra emoção, do francês émotion, significa ato de mover; é uma perturbação ou variação do espírito oriunda de situações diversas, manifestando-se em forma de alegria, raiva ou tristeza, entre outros. Psicologicamente, é uma reação breve e intensa do organismo humano frente a algo inesperado, acompanhada de um estado afetivo de conotação agradável ou penosa. É também um estado de ânimo despertado por sentimento estético, religioso, etc. É por esta e outras razões que óculos de sol não piscam, nem cadeiras de braços abraçam. Isto significaria exigir muito dos objetos…

Não obstante, os objetos são capazes de transmitir as mais diferentes emoções; não por suas qualidades intrínsecas, mas pelo grau de emoção do designer e do usuário. Afinal, Design é uma atividade de interface. Na realidade, são os designers os seres capazes de atribuir qualidades aos objetos por meio de suas criações, na mesma razão e proporção que o usuário é capaz de emocionar-se diante deles, sejam eles óculos de sol ou cadeira de braço.

 

 Ivens Fontoura é designer, crítico de arte e design, professor universitário

Também é jurado do Prêmio Salão Design


Por:

Imprensa Sindmóveis

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