Ele não coleciona troféus, nem mesmo carrega no currículo participações em prêmios ligados ao design. Em compensação, o arquiteto e designer Ivens Fontoura, o mais antigo jurado do Salão Design, não se cansa de avaliar projetos e propagar conhecimento. Aos 73 anos, já soma mais de 40 concursos. Somente na premiação realizada pelo Sindmóveis já são dez edições (1992, 1994, 1996, 1998, 2000, 2002, 2006, 2012, 2013 e 2014).
O universo acadêmico também faz parte da história de Ivens. “A autêntica sala de aula é o laboratório de análise e a constante produção de conhecimento e crítica”, afirma o profissional. Foi ele quem criou e coordenou o primeiro curso de Especialização em Design de Móveis do Brasil, na Universidade Norte do Paraná. Além disso, o apaixonado por criações já esteve à frente de entidades como Associação Nacional de Design (AND Brasil), Associação Latinoamericana de Design (Aladi), Associação Brasileira de Críticos de Design (ABCD).
Aproveitamos a 18ª edição do concurso para saber mais sobre o que representa participar do júri de um dos principais prêmios do setor na América Latina. Confira a entrevista exclusiva:
O que você leva em conta na hora de analisar um trabalho?
Primeiramente, os critérios estabelecidos pelo regulamento de cada concurso. Depois, a relação do objeto com o contexto da época, impacto ambiental de sua produção, potencial mercadológico, viabilidade industrial e, obviamente, sua configuração.
Como avalia o desempenho dos participantes ao longo desses anos?
De um lado, a preocupação com a inserção no contexto atual, na tentativa de acompanhar a evolução tecnológica da sociedade industrial e pós-industrial. De outro, lamentavelmente, relativo abandono do passado a fim de se firmar nas soluções já encontradas e, portanto, economizando energia pessoal e tempo.
Há uma tendência predominante a cada edição do concurso?
A princípio, não. Ainda que ao longo do tempo se perceba alguma influência de comportamento e da própria mídia em relação ao concurso.
Como o Salão Design contribui para aproximar o design da indústria moveleira?
Embora o fato de aproximação entre design e indústria seja um belo e bom sonho, isso só acontece por meio de dois fatores: ou pela ousadia e sorte do profissional, ou pelo olhar atento de poucos industriais na direção contrária. Lamentavelmente, isso nem sempre acontece. Mas, quando ocorrem simultaneamente, tem-se enorme probabilidade de sucesso.
Como é percebida a evolução do design brasileiro nos últimos anos?
Genericamente, bem, pois o acesso à informação internacional é muito fácil. Contudo, falta mais atenção, curiosidade e ousadia no sentido de tentar participar da vanguarda mundial ao criar novos paradigmas. No final, isso acaba ficando na mão de países mais conectados, mais inquietos e mais ricos.
O design nacional deixa a desejar em relação aos produtos de fora?
A princípio, não. No entanto, com o uso de ações mais ousadas, tanto dos profissionais de criação, como dos industriais, será possível competir com maior equilíbrio. E onde está uma das chaves do problema? Possivelmente, no olhar para a rica cultura brasileira, com grande possibilidade de exportar comportamento e novas possibilidades de viver. Todo objeto é uma conjugação entre sujeito e predicado, extensão humana e perfeito mediador social, capaz de afastar ou de aproximar pessoas.