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Geral, Premiados,

Mobiliário com uma proposta que represente o DNA do Brasil contemporâneo”. Esse é o conceito do Desafio da Identidade Brasileira do Prêmio Salão Design, que em 2023 teve três contemplados.

A seguir, confira os depoimentos de Porfírio Valladares de Andrade, Gustavo Mateus de Oliveira e Pedro Monteiro Luna.

PORFÍRIO VALLADARES DE ANDRADE

Além de contemplado na modalidade profissional do Desafio das Experiências Positivas com o Banco Taboa, Porfírio recebeu prêmio profissional no Desafio da Identidade Brasileira com sua Poltrona Varal.

PSD: Qual sua relação com o design de móveis?

Porfírio: Quando me formei, em 1980, percebi que não havia no mercado móveis adequados aos clientes que demandavam espaços planejados, com arquitetura. Estávamos mais próximos do final da ditadura, e era um vazio em termos de leitmotiv. Não havia um ambiente receptivo para a produção de móveis projetados.

Todos os grandes designers modernistas brasileiros ou saíram do país por perseguição política ou desistiram de produzir. Era um vácuo. Não havia cultura de Design. Foi aí que criei, junto com outros colegas, a Pau Brasil, uma loja com a proposta de construir moveis.

Há mais de quarenta anos crio moveis.  Na minha trajetória é importante recuperar que passei a minha primeira infância na emergente construção da capital do nosso país. Meu pai era engenheiro e morei num acampamento. Quando tivemos uma casa, de madeira, projetada por Lúcio Costa, era um lar provisório. Os móveis da Oca chegaram bem depois, quando meu pai resolveu construir uma casa de alvenaria. Creio que uma sensibilização nasceu aí. Prenhe de contradições, mas numa época singular da história modernista brasileira.

Poltrona Varal – parecer do júri

“A estrutura tubular de aço inox soldado e polido suporta 20 mantas de tear manual. O projeto troca o estofado por um empilhamento de tapetes artesanais sem perder em conforto. Os tapetes são mantidos em devido lugar apenas por seu peso e atrito, permitindo mudar as posições quando a camada superficial está suja. Em síntese, um diálogo inteligente que se dá por oposição/contraste entre o frio e o quente, o industrial e o artesanal, o rígido e o flexível”.

 

PEDRO MONTEIRO LUNA

Recebeu menção honrosa na modalidade profissional pela Cadeira Enxada (Versão especial couro de Pirarucu). A assinatura da peça é MOLU por Pedro Luna para MOLU Design (a cadeira) + Empório Beraldin (o revestimento)

 

Prêmio Salão Design: Qual sua relação com o design de móveis? Conte um pouco sobre sua história com a área.

Pedro: Sou Arquiteto de formação, graduado pela Unesp de Bauru, no interior de São Paulo. Durante a graduação e posteriormente trabalhando em escritórios como Superlimão Studio e Atelier Carlos Motta, desenvolvi um grande interesse por design de produto, graças àquilo que acredito que seja um atrativo para muitos: a capacidade de transformar uma ideia em materialidade, de forma relativamente rápida e, muitas vezes, com as próprias mãos.

A busca desse “fazer manualmente” me levou a cursos mais práticos, em especial os oferecidos pelo mestre Morito Ebine, que me ensinaram os princípios da marcenaria manual tradicional.

Acredito que eu crio peças, através da MOLU, que refletem essa formação: móveis que possuem métodos manuais de montagem (por exemplo, os pés da cadeira Enxada, que eu mesmo produzo) que se contrapõem a outros processos mais automatizados, como o do corte a laser em aço (que é desenvolvido com a expertise de um arquiteto em softwares).

PSD: Como se sente sendo contemplado por uma das mais tradicionais premiações do design de mobiliário da América Latina?

Pedro: Acredito que a credibilidade do Prêmio decorre, principalmente, de sua tradição. Mas também é reafirmada, em especial, pela qualidade e multidisciplinaridade do júri reunido. Para mim é uma imensa satisfação ter uma peça, pela qual tenho tanto carinho, sendo reconhecida por esses profissionais.

PSD: Na sua opinião, qual a importância da aproximação entre designers e indústrias?

Pedro: Entendo que independentemente da escala de produção de um móvel, em uma indústria moveleira de grande porte ou no ateliê de um artista, é imprescindível a compreensão das capacidades e limitações das matérias primas que o mercado oferece e os meios de transformação das mesmas para a criação de um bom design.

Na minha escala, como designer independente, já tive a oportunidade de visitar algumas dessas indústrias e sempre acho muito enriquecedor conhecer novos processos e metodologias produtivas, ampliando meu leque de soluções criativas. Ao mesmo tempo, também acho muito saudável para a indústria, acostumada a uma produção já estruturada, permitir esse olhar externo e, talvez menos enviesado, do designer.

Cadeira Enxada – parecer do júri

“A peça une pés feitos com cabos de enxada de madeira roxinho (Peltogyne sp.) e assento em chapa de aço carbono cortado a laser, dobrado e soldado, unidos de forma análoga à ferramenta. A geometria do assento em cinco planos proporciona uma boa ergonomia. Na versão premiada, o metal é revestido com o uso incomum de couro de pirarucu, curtido e tingido em métodos não poluentes. O conceito e o processo projetual foram muito bem apresentados pelo designer no memorial descritivo. O roxinho é bastante usado em ferramentas por sua dureza e resistência. A precisão, a simplicidade e a surpresa do projeto saltam aos olhos”.

 

GUSTAVO MATEUS DE OLIVEIRA

Recebeu prêmio na modalidade estudante do Desafio da Identidade Brasileira 2023 por sua Cadeira Caravella.

Gustavo: O meu interesse pela área moveleira do design iniciou na graduação, na Universidade Federal do Paraná, quando foi proposto por um dos professores a criação de um redesign de um fogão a lenha, o qual desenvolvi posteriormente inscrevi no projeto, o qual também foi premiado em 2020. Desde então venho interessando mais pela área e pretendo continuar estudando e conhecendo ainda mais sobre o design de móveis.

Ser premiado na minha categoria é uma enorme honra, visto que é um prêmio de grande importância e visibilidade na minha área. A contemplação na minha categoria fomenta ainda mais o crescimento na área do design e a desenvolver peças cada vez mais criativas e inovadoras. O desenvolvimento desse projeto, assim como uma possível premiação, é uma marca importante para um portfólio futuro.

Cadeira Caravella – parecer do júri

“O sistema construtivo proposto, cujas cordas tensionadas sustentam o encosto na posição correta, surpreende pelo conforto e pela solução de baixa tecnologia. O móvel tem o encosto dobrável que facilita o armazenamento e a circulação”.

 

SOBRE O PRÊMIO SALÃO DESIGN

Mais do que uma vitrine de tendências e talentos, o Prêmio tem parte na formação da identidade do design brasileiro e latino-americano. Nesses 35 anos de história, soma mais de 16 mil projetos inscritos por participantes de 37 países. Em 2023, a premiação conta com patrocínio master de Berneck e Interprint, além do patrocínio de Akeo, Blum, Dalmóbile e Zen.


Por:

Augusto Bedin

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